"Meu caminho é por mim fora."

18/11/2013

D. Maria Ruma



Sobre D. Maria Eduarda Ruma, esposa de Afonso da Maia:


Sómente Affonso sentia que sua mulher não era feliz. Pensativa e triste, tossia sempre pelas salas. Á noite sentava-se ao fogão, suspirava e ficava calada...

Pobre senhora! a nostalgia do paiz, da parentella, das egrejas, ia-a minando. Verdadeira lisboeta, pequenina e trigueira, sem se queixar e sorrindo pallidamente, tinha vivido desde que chegara n'um odio surdo áquella terra d'herejes e ao seu idioma barbaro: sempre arripiada, abafada em pelles, olhando com pavor os ceus fuscos ou a neve nas arvores, o seu coração não estivera nunca alli, mas longe, em Lisboa, nos adros, nos bairros batidos do sol. A sua devoção (a devoção dos Runas!) sempre grande, exaltara-se, exacerbara-se áquella hostilidade ambiente que ella sentia em redor contra os «papistas». E só se satisfazia á noite, indo refugiar-se no sotão com as creadas portuguezas, para resar o terço agachada n'uma esteira - gosando ali, n'esse murmurio d'ave-marias em paiz protestante, o encanto de uma conjuração catholica!

Os Maias, Eça de Queirós


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