"Meu caminho é por mim fora."

14/01/2014

Começar de fresco



Ouvi esta manhã o telemóvel despertar pelas 6:30 e nesse momento a voz da avó chegou-me áspera aos ouvidos alegando que não precisava de acordar tão cedo. Na verdade assim era. Deixava o despertador acordar-me às 6:30 para só ter de me levantar dali a meia hora, mas era meu hábito e temia que se o mudasse acabasse por não conseguir separar-me dos braços de Morfeu.
Levantei-me sem muitas demoras, nesta manhã, e preparei aquele que me pareceu ser um bom dia. Demorei o menos que pude e dirigi-me para a escola. Também lá demorei o mínimo.
Voltei tempos depois e a espera pela camioneta pareceu-me horas, não pelo frio, mas pelas saudades da casa vazia e dos cantos que sei de cor. Quando cheguei já  a mãe me tinha preparado um dos meus pratos predilectos, porém o meu irmão deu-me despacho da cozinha que queria arrumar. Fechei-me no quarto e liguei para um dos meus amigos de infância. Atendeu. Ouvi-o chorar do outro lado. Não quis estar comigo nesta tarde. Pediu para não me preocupar, afirmou que não estava boa companhia e prometeu-me que iria ficar bem. Desliguei como que obrigada e pensei em visita-lo. Antes de o fazer ocorreu-me a ideia de que os meus planos pudessem sair furados. Fiquei-me por casa. E por entre um livro e umas canções lembrei-me da pessoa que amo. Procurei-o e apenas tive como resposta imagens felizes com outra pessoa. Percebi que o nosso, digo, meu amor tinha já passado dos dias de mocidade e não estando sequer no seu leito de morte, tinha já partido, enterrado no meu coração para nunca mais se fazer sentir.
Durante estas reflexões e certezas, a casa continuava vazia e escura. Levantei-me e acendi todas as lâmpadas numa ânsia de luz. Vagueei pelos quartos, procurei pela presença de alguém, contudo apenas me respondiam as cadelas que pareciam agitadas por um qualquer movimento na rua. Mas esta casa melancólica e estes ruídos destruidores contrastavam com um vazio interior da minha parte. De novo, tinha voltado aos tempos de apatia e modorra. Tinha vestido nessa manhã preto integral, como que a antecipar a morte para a alegria e o sofrimento extremo. Era um recomeço, um voltar às raízes. Sucumbiu aquilo que perdurou anos no meu peito e houve nesse momento a sensação dolorosa de continuar vazia para o resto dos meus dias, a certeza de continuar não amando ninguém. No entanto, não me tremeram as pernas, não senti a tristeza, não pensei em voltar atrás. Não havia nada que já não tivesse feito e suportado. Havia apenas naquele momento a fome. Eram já 5 horas! E nesse momento abriu-se a porta principal e entrou a minha avó com um bolo.
Está este dia por fim completo.

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