A avó acordou antes mesmo das seis horas, vi-a ir pousar o relógio perto da televisão. Batiam seis da manhã. O meu telemóvel despertou logo depois. Eu acordei como a prever que o despertador ia tocar logo a seguir. Fechei os olhos e atentei-me ao sono novamente, enquanto a avó se passeava pela casa a arrumar-se para ir a Fátima. Acordei mais tarde com um leve beijo de despedida, desejei-lhe boa viagem e ela agradeceu com voz doce. Voltou novamente a casa não tardou, calcei-lhe as botas e foi. Estava a chover.
O tempo foi-se espreguiçando morosamente nos ponteiros do relógio. Não houve um único som de histerismo durante toda a manhã. Comemos frango e eu escapei-me da sopa. Pareceu-me que o dia não podia correr melhor, mas a tristeza conhece atalhos muito mais rápidos que os meus caminhos direitos. Apanhou-me na curva. Encheu-me os olhos e esvaziou-os, como rio a chegar ao mar. Arrastei-me pelo quarto e amaldiçoei todos os santos.
O resto do dia não deve ser melhor.

Como a água por entre os dedos, se escapa de mim a vida e a alma.
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